A camisa rosa do Fluminense e o tropeço do marketing tricolor (por Wagner Victer)

Ao contrário do que dizia o nosso genial e saudoso Nelson Rodrigues, no marketing do Fluminense, em especial no desenvolvimento do seu programa de Sócio Torcedor, nem sempre o óbvio é ululante.

Não há de negar que o fabricante Umbro tem feito camisas com excelente qualidade, porém desde sua entrada, aliás, não só com a Umbro, mas também com o fabricante anterior, Under Armour, o Fluminense tem perdido uma oportunidade óbvia, que não é exercida para fazer o que é necessário para ampliar o programa de Sócio Torcedor, que é criar mecanismo de fidelização à marca é ao clube especialmente.

Um bom exemplo disso é que recebi essa semana um estudo dizendo que cerca de 2.400 sócios torcedores do Fluminense se localizam em estados do Nordeste. Ou seja, não só esses sócios, mas muitos sócios da capital da própria região metropolitana, ou que estão em outros estados, não estão somente associados ao Fluminense para obter um programa de desconto em ingressos. Na verdade esperam um tratamento diferenciado por parte do clube e um acolhimento que o diferencie daqueles que não são sócios – essa ação é básica e merece ser vista.

É inaceitável o erro primário de marketing, que não traz qualquer processo de fidelização ao sócio, como o Fluminense tem feito no lançamento de suas camisas. Não há dúvidas que um lançamento de camisa que é uma nova marca, ou uma chamada nova armadura do sócio que o clube vai usar, aquele que é sócio tem que receber na frente a informação, a forma do modelo e não saber através de vazamentos ou através de sites, como tem sido até então. Ou seja, o sócio como eu que não tenho recebido, deve antes de vazar receber um e-mail, tipo top secret, dando detalhes e características para que ele sim possa de alguma maneira repassar para outros tricolores, mostrando um diferencial do que é ser sócio.

Da mesma forma, é inconcebível para um sócio quando se lança uma camisa que não se tenha um sistema prévio de reservas, de maneira que este sócio, antes do lançamento normal nas lojas, que normalmente é ofertado à outros torcedores, não tenha na frente e a garantia que vai receber aquela camisa. O mínimo que pode se esperar em um programa de sócio é que, antes do lançamento, os sócios recebam um e-mail e possam fazer uma reserva, inclusive definindo o seu tamanho e até recebendo essa primeira leva de lançamento em casa, pagando uma pequena taxa, aliás, como é cobrado por até uma hamburgueria ou pizzaria do subúrbio e com uma pequena marca que o diferencie, que seja ou de primeiro lançamento ou camisa de Sócio Torcedor de um pequeno stamp que não deve custar nem dois reais.

Essa medida simples e básica acaba sendo um diferencial para que pessoas que moram fora do Rio de Janeiro possam querer continuar sendo sócias, até porque vão se sentir sendo tratadas de maneira diferente e não terão que se engalfinhar em lojas nos lançamentos, ou ficar de madrugada para fazer reservas de camisas que rapidamente acabam, ou ainda em quantidade ou tamanhos inadequados.

Essa trapalhada, que já havia acontecido no lançamento da primeira e segunda camisa, tricolor e branca, voltou a acontecer na camisa verde e agora acontece na camisa rosa, lançada corretamente em homenagem ao Outubro Rosa, porém numa quantidade limitada. Desta forma, o sócio para ter acesso cai na chamada vala comum ou tem que recorrer a algum tipo de jabaculê para conseguir a camisa desejada para seus dependentes ou do tamanho adequado.

Sou sócio proprietário e não consegui comprar a camisa branca num tamanho que gosto de usar, folgada, 4G. Consegui agora comprar de maneira absurda, usando um contato de um amigo, a camisa verde no tamanho 4G que acabou minutos depois. Isso é um absurdo completo: a chamada frustração de demanda.

Com isso, não só os sócios perdem o atrativo de continuarem sendo sócios, como também o próprio Fluminense e o próprio fabricante perdem dinheiro. Aliás, a própria estratégia de lançamento de camisa deve ser temporizada dentro da capacidade de aquisição dos sócios. O último lançamento da camisa verde com valores superiores a 250 reais e, pouco mais de um mês depois, lançando a rosa, considera que todos os tricolores, especialmente aqueles que têm seus dependentes, possuem um elevando poder aquisitivo para isso. Aliás, aqueles que não têm, acabam tendo sua demanda frustrada e, quando não conseguem comprar a camisa no momento de lançamento, acabam não comprando depois, o que acaba sendo uma perda de recursos e de oportunidade de venda para o Fluminense.

O lançamento de camisas tem que ser feito de maneira espaçada ao longo do ano e, se possível, coincidir com períodos e momentos festivos para que possa ser utilizado como presentes para serem distribuídos para sócios e para torcedores. Isso não está acontecendo e obviamente não deveria acontecer para o Outubro Rosa, porém foi prejudicado pelo lançamento da camisa verde recente.

Outra estratégia é lançar camisas no momento em que o clube esteja prestes a participar de uma grande competição, ou após um grande resultado, e isso normalmente não é feito pois normalmente faltam camisas previamente aos grandes eventos ou grandes concentrações, e isso sempre com dificuldades de acesso aos sócios.

Se não tivermos a inteligência básica para tratar esse assunto de material esportivo e o gerenciamento com a demanda, acontecerão situações como quando foram lançados o primeiro e segundo uniforme tricolor e branco do fluminense, onde havia uma demanda mesmo dentro da pandemia, absurdamente maior do que a quantidade ofertada e logicamente o Fluminense e o fabricante de camisas perderam muitos recursos, pois não tinham a quantidade de camisas disponíveis. Ora, bolas, pois isso no campo de marketing não deixa nem de ser falta de inteligência, caminha para o campo da imbecilidade.

E dessa forma é fundamental que pelo marketing do Fluminense se repense suas relações com o próprio sócio torcedor, e que se estabeleça um novo sentimento de que ser sócio não é uma doação de dinheiro ao Fluminense, mas sim um programa que alinha a questão do amor ao clube, um conjunto de posicionamento diferenciado do clube que valorize esse processo associativo de maneira objetiva, rápida, desburocratizada e inteligente. É o que se espera para realmente aumentarmos o programa de Sócio Torcedor e, mais do que isso, para valorizar efetivamente os nossos sócios, especialmente aqueles que estão distantes do clube.

Panorama Tricolor

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